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A viagem

Ao longo da vida fazemos Viagens, no entanto só contabilizamos as viagens que fazemos fisicamente. A verdadeira viagem, por tudo o que tenho lido, é ao nosso "interior" mas, para isso por vezes teremos de percorrer muitos kms.

A viagem

Ao longo da vida fazemos Viagens, no entanto só contabilizamos as viagens que fazemos fisicamente. A verdadeira viagem, por tudo o que tenho lido, é ao nosso "interior" mas, para isso por vezes teremos de percorrer muitos kms.

6 Dia

cibera, 10.07.23

Antes de sair para jantar, Breno disse-me: amanhã chove. Perguntei-lhe se tinha Fé, ao que respondeu que sim. Perguntei-lhe se quando saiu do Brasil para ir visitar a namorada a França se tinha programado vir fazer o estágio em Braga e se tinha planeado fazer a caminhada. Por vezes, o universo promove meios para fins que não pensamos ou sonhamos, só temos que ter Fé.

Quanto á chuva, parece que choveu e muito durante a noite, quando saí já não chovia e só apanhei uns pingos muito fracos, por duas vezes a meio da viagem, um enquanto passava numa zona de árvores e por isso as mesmas serviam de resguardo e da segunda vez o sol até brilhava mas, sem arco íris, imaginei que estava numa esplanada naqueles dias de verão quentes e era uma ventoinha que libertava os vapores de água.

Este Albergue, privado também oferecia a possibilidade de pequeno almoço. O curioso é que este albergue situa-se numa loja tipo comercial apenas com luz natural na montra, e na entrada fica a recepção e a cozinha. Depois passando uma porta foram feitos muitos cubículos para 4 camas em beliches, ficando aberto acima dos dois metros. Quase sem ventilação e nenhuma luz artificial, só lucro.

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Hoje já passava das 6h45 quando saí, percorri a cidade até conseguir sair, foram mais de 20 minutos, quem diria que demora-se tanto a sair de uma cidade a pé e sem filas de trânsito!

Foi uma manhã animada de peregrinos, alguns saíram antes de mim e existem mais albergues. Na primeira hora apanhei muitos com passo lento a partir daí foram 45 minutos eu e mais a natureza, só cruzei com dois em sentido contrário, o que dá vontade de rir, será que existe problemas no caminho? É verdade, vão para Fátima!

Muitas subidas e com grande declive e claro, como diz a velha máxima, atrás de uma grande mulher existe sempre um homem, aqui existe uma descida. Parte em estrada de alcatrão e parte em terra batida. Depois, apareceu o mar, um braço que entra terra dentro, pensei que aqui sim valia a pena ter uma de férias!

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Tal como no norte de Portugal, se existe verdura existe água.

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E caminhos de pedra e cascalho, terríveis para caminhar, mas sabia bem.

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Nesta zona, com o caminho bem arranjado e um prazer andar apesar das descidas acentuadas passaram por mim uns ciclistas, não peregrinos, apenas a fazerem o percurso a alta velocidade e colocando em causa a segurança, mas passaram sem problemas. Uns minutos depois outro grupo, um deles vinha a berrar para saírem do caminho, apesar de só ter 1,5m de largura o grupo anterior tinha passado sem problemas. Este louco continuou a gritar como um louco e logo se deitou uns 20 m atrás de mim.

Não desejo mal e espero não ter-se magoado, se não viesse em grupo teria de o socorrer mas assim continuei em paz a caminhada. O respeito e o civismo parece que é um problema geral, este talvez tenha aprendido a lição, podia ter provocado um acidente, mais uma vez, nada é por acaso.

E por não ser nada por acaso, eu tenho de carimbar o passaporte duas vezes ao dia, uma é no albergue e a outra onde eu quiser. No caminho encontrei 5 bancas com venda de produtos, principalmente água e que colocavam o carimbo, mas recusei ir a uma delas. Onde bebi café de manhã não tinha, por isso estava a desistir de ter os dois carimbos hoje, no entanto enquanto pensava nisto vi uma capela aberta e fui tirar a foto como faço em todos e lá estava o carimbo, o universo voltou a responder.

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A 6 kms de Pontevedra um caso curioso, os peregrinos que encontrei não cumprimentavam nem mostravam um sorriso, um grupo francês até virou-me as costas e outro grupo de 3 nem respondeu quando passei por eles e disse o tal "bom caminho" e o mais engraçado é que os habitantes locais também não, 6 kms de gelo!

Cheguei a Pontevedra antes das 11h, muito cedo e muita confusão, atravessei a cidade, quase uma hora de caminho e segui.

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Depois de Pontevedra voltou o espírito de peregrino, tanto os habitantes como os peregrinos já mostravam simpatia.

Na entrada de uma terra mais um mosteiro.

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Mais á frente outra capela, completamente diferente das nossas, pouco trabalhado e em pedra.

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Já tinha encontrado de tudo, mas esta fez-me sorrir, de facto é isso mesmo, quem quer fazer o caminho terá de ter sempre um sorriso na cara e muito amor, torna-se mais fácil.

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Já tinha atingido o meu objetivo e pensava parar num dos albergues espalhados pela estrada e a oferecer sempre mais serviços, mas senti um desejo de continuar, parecia que o meu corpo estava em sistema automático e por isso, apesar de sentir algum cansaço continuei.

Noutro local encontrei um grupo de portugueses e claro como bom português estavam sentados numa das muitas mesas espalhadas pelo caminho. Tinham apoio de um carro, mesmo sem saberem que era Português ofereceram comida e café, apesar da vontade de aceitar fosse muito, sabia que depois teria problemas em continuar. Agradeçi a oferta, recusando e seguindo o caminho. Ainda não sabia até onde ia, onde deles perguntou-me de onde vinha e depois afirmou que iria até Caldas Ao qual respondi que sim. Não fui eu a decidir, foi o universo a dar-me a mensagem e ainda bem.

Pelo caminho mais alguns factos interessantes.

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A maioria do caminho é o verde, nalguns casos do milho ou vinha noutros as árvores.

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Depois de tanto caminho, passou os 40 kms, cheguei ao local de descanso. Quando estava a fazer o registo foi-me logo recomendo, tinha de ir colocar os pés na água quente do tanque, 38 graus e que tem efeitos terapêuticos, principalmente para quem caminha. Nesta é a fonte que não podemos colocar os pés.

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Uns metros ao pé lado o tanque tanto recomendado. Enquanto lá estava apareceu um grupo de 3 portugueses, ele já tinha feito anteriormente o caminho mas quando chegou a Caldas não teve força para molhar os pés, agora em passeio, de carro, queria fazer o que não tinha feito. A água estava mesmo quente, sabe bem aos pés.

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A igreja onde todos os dias às 20h os peregrinos podem assistir á missa.

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Depois de um dia a comer barras energéticas e fruta, fui comer um dos doces regionais antes de ir ao restaurante recomendado e que ainda era cedo.

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Hoje foi o dia de experimentar várias fases, afinal na vida é assim mesmo, a diversidade é que faz a alegria de viver.

E hoje tive a certeza, quero fazer em breve o caminho francês e no próximo ano quero fazer em Itália o caminho de Assis.

Agora, não pensem que fiquei convertido, sempre fui Crente e sempre tive Fé, mas continuo a não saber porque vi fazer esta caminhada. Tenho dúvidas que quando chegar a Santiago de Compostela tenha alguma resposta.

Até já!

7 Dia - chegada

cibera, 10.07.23

Depois de mais uma noite num albergue onde a mistura de pessoas é o principal enriquecimento de um peregrino, voltei a acordar antes das seis horas. Desta vez fiquei num quarto com duas jovens da Lituânia, algo que parece quase impensável. Na realidade, durante todo o caminho verifiquei que existe muita confiança para fazer o caminho, principalmente pelas mulheres sozinhas, mas não só, quando eu próprio passei por zonas de denso arvoredo de manhã ainda meio fosco, ou naqueles momentos de 2h sozinho, acreditem que mete medo mas, mais uma vez a palavra chave, Fé.

Ainda no albergue, voltei a encontrar o Breno que me contou que no dia anterior decidiu sair às 5h da manhã, e quando chegou á rua verificou que ainda estava escuro e sentiu receio de ir pelo trilho. Assim optou seguir a estrada, verificando depois que perdeu uma hora de viagem. Ou seja, saiu mais cedo mas de nada valeu. Tal como na nossa vida, por vezes tentamos ganhar tempo, seja num engarrafamento, seja porque queríamos para agora e só marcam para amanhã, seja para o que for e depois vimos a descobrir que foi uma perda de tempo, afinal tinha dado tudo certo se tivéssemos aceitado o que nos proponham, mas adivinhar!

Durante a caminhada de ontem comecei a pensar na possibilidade de terminar hoje, pelas minhas contas chegaria por volta das 17h. Seria a condição física a decidir. Breno voltou a falar disso hoje de manhã, para garantir que tinha alojamento já tinha reservado albergue em Santiago, por isso já não tinha opção. Disse-lhe que não estava a pensar nisso e voltei a referir a situação física, é a chave para tudo.

Saí 6h40, existia uma movimentação na cidade de mais peregrinos, assim seria uma caminhada menos solitária. Ao fim de 30 minutos decidi parar e libertar-se de algum peso, peguei nos 3 pólos, que já vieram com esse objetivo, e deixei-os junto a um contentor, pesavam perto de um kilo, faz toda a diferença. Nesse tempo passaram por mim vários peregrinos e um dos grupos teve o cuidado de questionar se estava tudo bem, os outros apenas as palavras mágicas "buena viagem".

Quando voltei á estrada, passei pela maioria dos peregrinos que me tinham passado e a partir daí, Ninguém! Quase duas horas sem ver vivalma, como é domingo nem os normais habitantes. Só depois quando cheguei á estrada de alcatrão e  encontrei um café aberto é que comecei a ver pessoas. Aproveitei para beber um café e carimbar o passaporte.

Depois, já a caminho, com surpresa voltei a ver o Breno. Já tinha feito duas paragens para tomar café, ele tinha saído meia hora antes e a passada dele era mais rápida. Nesta altura confessou que de manhã tinha desmaiado. Ao perguntar sobre a alimentação disse-me que estava só a comer uns lanches e barras energéticas e em relação á fruta bebe apenas "suco natural", deve estar a referir-se aos pacotes que dizem sumo natural, não o estou a ver gastar dinheiro nas bebidas feitas na hora. Como é que um futuro médico tem este tipo de alimentação, sabendo do esforço que é necessário para a caminhada?

Depois da pequena conversa,  disse-lhe para avançar que o meu passo é mais lento e assim ele o fez. Não o voltei a ver.

Fiquei a pensar no que ele disse, é um problema grave e não é só dele, muita gente facilita e não cumpre as regras básicas de uma boa alimentação. Eu durante a caminhada só como o jantar em condições, mas como o mesmo completo ou como sopa ou salada.

Nalguns pontos do caminho existem além das mesas pequenos telheiros, seja por causa do sol ou da chuva, são excelentes.

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Porque continuamos em zona de serra e muita verdura a água faz parte da paisagem, pequenos riachos, fontes ou até mesmo pequenas cascatas.

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Os marcos também são uma constante. Ainda dá conversa com o Breno e sobre invenções que marcaram a nossa sociedade, está seta amarela, que já existia, imaginem a diferença que faz no trilho, sem ela era necessário mapas, eu vinha preparado com um mapa no telemóvel para não me perder, mas não foi preciso, bastava seguir as pequenas setas amarelas, por isso, é uma grande invenção. Nesta parte de Espanha por ter a distância, permite-nos decidir calmamente a distância que pretendemos percorrer.

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Entrada de Padron, poluição a dar boas vindas. Foi a imagem deslumbrante que encontrei enquanto descia a serra, um grande rio e a fábrica a libertar aquele fumo, claro que na imagem também existem nuvens.

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Em Padron decorria o mercado, um dos maiores que vi até hoje, parecia que eram as festas da cidade. O caminho passava no meio das bancas, ainda pensei passar por outras ruas mas, tinha decidido seguir o trilho e, por isso mantive a rota. Em extensão de bancas foi um km e de parques de estacionamento, parecia um jogo de futebol dos grandes.

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Dentro da igreja de Padron. Como tenho feito nas igrejas abertas, entro e registo o momento.

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A imponência das construções, como faziam sem equipamentos como existem hoje a deslocação das pedras.

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Eram 10h30 quando cheguei a Padron, muito cedo e por isso foi apenas atravessar a cidade e a confusão que existia, nem para um café parei.

Durante toda a viagem senti algo que agora encontrei escrito. É verdade a língua pode ser um obstáculo mas um sorriso ....

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Encontrei muitos mosteiros nesta região, ou pelo menos, o que resta deles já que quase todos estão convertidos em quintas.

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Os Santuários, normalmente são em locais altos e isolados este é junto á estrada.

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Voltei para a natureza, pensei que estava a entrar na terra de alguém mas, é o próprio caminho a passar debaixo das parras e dos cachos de uvas.

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Claro, já tinha decidido e, até sentia mais fresqura quando vi a placa dos 7 kms, acreditem mas nas descidas praticamente corria, levava a mochila com nove kg. A partir daí encontrei muitos peregrinos e passaram por mim ciclistas peregrinos. Os peregrinos a pé praticamente estavam todos a descansar, pensava comigo, se eu parar para descansar poderei não conseguir fazer o resto hoje e por isso, passo a passo, deixei-me ir, estava quase. Eram 5h quando cheguei! Muita gente, muitas mochilas, muito ar de cansaço e muitos grupos de turistas com o tradicional guia e a bandeirinha. Não se podia entrar com mochila, por isso decidi procurar um hotel, sim hoje preciso de descansar a sério! Quando regressei para levantar a Compostela tinham acabado de fechar, agora só amanhã de manhã. No caminho tinha visto uma promoção de Menu e um dos pratos bacalhau, fui de novo procurar, pelo menos tinha a satisfação de comer um dos meus pratos, teria sido o acaso ter visto?

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Agora, resta-me descansar e de manhã levantar o "prémio" e deixar-me levar pela "onda" do entusiasmo.

Continua no ar a pergunta: porque fiz a caminhada de 265 kms?

Já não quero saber da resposta, isto é prova de que quando realmente queremos e estamos dispostos a pagar o preço conseguimos, mas para isso temos de ter Fé, acreditar e aceitar o que o universo nos dá!

Vou de férias, dentro de alguns meses, volto para a próxima caminhada 

Até já!

5 Dia

cibera, 07.07.23

Albergue de Valença é completamente diferente de tudo, até as casas de banho são mistas.

Saí do Porto com peregrinos estrangeiros de várias idades, até Ponte de Lima foi assim, mas esse albergue marcou a diferença, um português e quase todos jovens. Em Valença, mais mulheres que homens e um grupo de 6 jovens alemãs na casa dos 20 anos. Não encontrei portugueses neste albergue.

Fui jantar num restaurante ao lado com a indicação de menu peregrino, pelo menos servem muito bem já que o preço está mais virado para o turista estrangeiro, o peregrino na sua maioria come qualquer coisa que faz na cozinha do albergue.

Como este pessoal tem frio, fecharam as janelas, que sofrimento para mim, em Ponte de Lima as janelas ficaram todas abertas.

Mais uma vez antes das 6h já estava de pé e às 6h30 caminhava na rua. Quem traçou a rota é inteligente, podia ter descido a avenida nova e cortado á esquerda e estava na ponte, mas não, obrigaram-me a dar a volta á cidade velha dentro das muralhas, desta forma o peregrino é obrigado a conhecer o nosso património.

Quando atravessava a ponte fui recebido com a música dos sinos, 7h ou antes, 8h em Espanha.

Em Tui comecei a encontrar mais peregrinos, este local é onde começam a maioria, basta fazer este percurso para ter direito á "medalha" e claro, dois carimbos todos os dias no passaporte de peregrino.

A partir de Tui, ou era alcatrão ou terra batida mas um excelente percurso. Nas estradas principais de alcatrão tinha uma pequena faixa com indicação de peregrino e avisos para os autonomistas.

Em Portugal existem muitas fontes de água naturais, ou pelo menos existentes nas aldeias e não por serem de apoio ao peregrino. Em Espanha, existem fontes/torneiras especialmente com essa finalidade e a informação de água potável. Normalmente na maioria dos casos tem bancos de apoio.

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As igrejas deles são mais raras e menos opulentas, a maioria abertas. Em Tui vi uma que devíamos adoptar em Portugal, colocação de uma porta de vidro assim dá para abrir as igrejas com estas portas interiores fechadas.

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Hoje seriam só 22 kms até Porriño, mas cheguei á zona industrial às 11h (espanhola), é verdade que demorei quase 2h a atravessar até sair. No percurso até aqui cruzei-me com vários peregrinos de várias nacionalidades e entre eles o Diogo de Aveiro estudante de software. Também saiu do Porto mas pelo caminho da Costa, no primeiro dia fez 40 kms e depois reduziu um pouco mas não invalidou ter uma ruptura no pé, estava já com meia elástica e notava-se inchado. Como tinha o passo maior depois de uma pequena conversa na entrada da cidade só o voltei a encontrar meia hora depois sentado. Falei mais com ele, até para o animar, deixei-o a descansar e continuei. Parei num café e conheci o Cristóvão de Guimarães, já ia na quarta caminhada, mas não podia esforçar porque teve recentemente uma tendinite na perna e por isso ia ficar por aqui. Recomendou-me Mós, um bom local.

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Em Mós também não senti que seria o local, meia dúzia de casas e comércio com vista ao peregrino. Continuei e nessa altura o Diogo passou por mim com outro jovem e nem sequer mostrou qualquer sinal de já ter falado comigo. Os estrangeiros mostram um sorriso, nesta caminhada por vezes paramos seja para comer o nosso lanche ou beber um café, e em Mós pode ser Delta, até fiquei espantado, nem parecia que estava em Espanha. Mas quando reencontramos os estrangeiros esboçam sempre um sorriso, e as palavras mágicas " boa caminhada", é bom sentir isso.

Além das indicações existentes, existem também os símbolos de passagem, este é um de entre muitos.

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Os marcos espanhóis até têm a distância até ao metro e em todos eles, nalguns casos estão de 100 em 100 metros.

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Voltei a passar pelo grupo do Diogo e disse-lhes "bom lanche, o colega ainda respondeu ele nada. Passado uns minutos voltaram a passar e a mesma situação. Mais á frente estavam parados num café, e alguns minutos mais tarde fui alcançado pelo colega sozinho, brasileiro de férias em Portugal aproveitou para fazer um estágio de medicina em Braga e decidiu fazer o caminho. Muito mais simpático acabamos por fazer os últimos 6 kms juntos. São estas as mentalidades das pessoas, o Diogo queria"pena" e porque estava sozinho tentou agarrar-me mas assim que teve companhia mostrou arrogância e desprezo, porque será que faz o caminho de peregrino?

Já a entrar em Redondela, é verdade, se fiz 35 kms entre Barcelos e Ponte de Lima e 35 entre Ponte de Lima e Valença, porque não os faço até Redondela? 37 KMS, estão feitos e depois de um duche mais um passeio pela vila.

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O albergue recomendado, o mais barato estava repleto, fiquei num de 15€, mas de facto as condições são totalmente diferentes.

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Hoje sim, já vou falando com mais pessoas, o meu fraco inglês não é essencial.

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Até já!

4 etapa

cibera, 06.07.23

Depois do dia de ontem, 35 kms hoje vai ser um passeio, apesar das referências a algumas subidas previstas são só 18 kms.

Como nestes albergues dormir não é o mais importante, voltei a levantar antes das 6h e às 6h30 já estava a pisar o alcatrão.

Muitos peregrinos já estavam a levantar-se, por isso hoje seria mais animado. A primeira hora foi pacífica, fácil de encontrar a sinalização e praticamente plana.

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O sol nascia mas, o arvoredo do rio mantinha um lugar fresco e a água transmitia uma paz, era um passeio relaxante.

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Ao longo do passeio começou a música, eram 7h, o relógio da torre batia as horas.

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O percurso estava bem cuidado, afinal os peregrinos são o "comércio" para a região, nota-se pelo número de casas/albergues com a informação de Peregrinos.

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Os placares de informação não faltam e  repletos de informação sobre o caminho, onde comer e dormir mas também sobre os monumentos da região.

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Estava a ser um passeio demasiado fácil, ao fim de uma hora tudo mudou. Passou por mim o médico e mais á frente num cruzamento com outra estrada, deviam vir de um dos albergues da região, encontrei dois alemães com uma pedalada.

Logo a seguir começou o que previa, subidas com grande declive e de pedras soltas. Estou a imaginar alguns peregrinos com quem cruzei no dia anterior e que tinham alguma dificuldade em andar. Agora entendo a publicidade com o número do táxi.

Voltei a cruzar-me com outros peregrinos em sentido contrário e depois é que percebi, o trajecto em sentido contrário é para Fátima.

Quando existiam dúvidas sobre o caminho encontrava-se este tipo de amontoados de pedras, testemunhos de quem aqui passou.

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Nalguns pontos o rio e quedas de água e algumas casas escondidas. É como se fosse um tesouro bem escondido.

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Início da subida mais complicada, as anteriores apesar do declive era alcatrão, esta não só o declive mas o piso.

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Imaginem subir as escadas de um prédio de 8 andares numa encosta de pequena distância.

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No cimo dessa famosa subida existe a Cruz dos Mortos, imagino o porquê, mas a história não é essa mas sim porque segundo dizem, neste local foi onde Portugal conseguiu bloquear o exército de Napoleão e morreram muitos soldados franceses.

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Quando atingi o ponto mais alto cruzei-me com o médico, os dois alemães e uma jovem estrangeira. O resto do Caminho, 2h, foi em conjunto e aí já senti o verdadeiro sentido do caminho, diversos peregrinos de várias nações. Como foi a descer e ou plano, foi calmo.

E finalmente chegamos! Uma pequena terra com meia dúzia de casas e apenas um café. Aproveitei, como eram 11h comer alguma coisa.

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Depois de comer comecei a pensar, 18h neste local sem nada para fazer?

Desejei boa estadia ao médico e ao restante grupo e fiz-me á estrada. O médico ainda perguntou até onde ia mas apenas respondi, não faço a menor ideia.

A partir daqui seria mais fácil, em comparação com o trajecto anterior, embora existam subidas são na maioria em alcatrão ou então em terra batida mas com bom piso, parecia uma autoestrada.

Noutro ponto encontrei o que dizem ser a primeira seta em território português.

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Mais água, é o que não falta no norte, e muitas fontes, permitem andar menos carregados, já que podemos encher as garrafas.

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Capelas e igrejas, também é o que não falta, algumas mais simples e outras mais trabalhadas.

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Algumas peparadas para a festa, estamos em julho e as festas no norte são continuadas, quando não é numa terra é noutra muito próxima.

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As freguesias ou talvez o município, empenham-se na promoção da região guiando o peregrino.

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E, finalmente Valença á vista, só faltam 11 kms, estou na dúvida entre ficar na próxima terra a 2 kms ou fazer o restante, mas ainda não é uma hora, a andar bem estou antes das 16h na albergaria e, não tenho problemas físicos nem cansado, por isso está decidido, afinal são só mais 11 kms ao todo 35, se ontem os fiz porque não os faço hoje.

A ideia inicial que seria uma etapa mais simples, já se foi!

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Na recta de acesso a Valença, mais uma capela a dar as boas vindas e ainda faltam 15 minutos para as 15h, excelente.

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E finalmente, depois de meia hora a andar dentro de Valença, chego ao destino. Bem localizado, excelente edifício, boas instalações e só estrangeiros. Ao lado ouço alemão, ucraniano e inglês, maravilha. Mas, todos com um belo sorriso e cortesia, apesar de tal como eu estarem exaustos.

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Amanhã, será o momento de passar a fronteira. Incrível, Porto - Valença já está feito!

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Até já!

3 Dia

cibera, 05.07.23

Para ser diferente hoje foram 35 KMS. De forma a chegar antes das 15h, saí às 6h da manhã.

O dia estava melhor que o anterior, não existia nevoeiro ou seja, menos humidade. Por ser mais cedo todos dormiam quando saí, os estrangeiros gostam de apreciar e ver a nossa cultura e por isso fazem etapas mais pequenas. Durante o caminho encontrei muitos AL com indicação referente aos peregrinos.

Alguns, com ofertas excelentes de como passar um dia com piscinas entre outras.

A viagem foi solitária, tal como é normalmente a nossa vida, temos emprego, família e por vezes hobbies mas, tal como os aviões, ligamos o piloto automático e deixamos ir, permite-nos viver ou antes sobreviver. Deixamos de sonhar, os empréstimos, os filhos limitam a nossa capacidade de acreditar que podemos ter sonhos para viver.

Assim, por ser mais solidária permitiu pensar um pouco no que já fiz na vida, decisões menos acertadas, nunca chamo erro, porque para isso era preciso ser algo completamente crítico, por exemplo em matemática todos consideram errado quando dizemos 1 + 1 = 3, mas será mesmo errado?

É preciso ter cuidado quando respondemos sem fundamentar ou conhecer todas as possibilidades, mas claro que é o que mais fazemos, julgamos tudo e todos porque achamos que sabemos tudo.

Voltamos ao problema matemático, quando somamos um Homem mais uma Mulher claro que pode ser o resultado 3, quando nasce um filho.

Este foi apenas um exemplo, existem muitos outros que colocam em causa a ideia de ERRO. A verdade é que todas as decisões tomadas, na vida e na viagem foram elas que permitiram chegar aqui onde estou.

Mas voltando á minha viagem, claro que não ia sozinho, tive sempre a companhia da minha sombra, principalmente quando fazia sol. Nas primeiras 3 horas apenas cruzei-me com pessoas que estavam a fazer as suas caminhadas ou que estavam á espera da boleia para o trabalho. Em Barcelos ainda bem que encontrei um casal a fazer a sua caminhada, já estava a cometer o erro de ir por uma estrada errada, mas o universo enviou este casal que fazia a caminhada na direção que tive de tomar e com essa ajuda saí facilmente de Barcelos sem enganar.

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Estamos no norte, em cada esquina encontramos uma igreja ou uma capela, não chega às que existem em cada terra que existem outras para homenagem de alguma situação.

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Também encontramos quase em cada esquina, fontes de água, evitamos comprar e esta está sempre fresca. Ao fim de três horas avisei os dois primeiros peregrinos, eram portugueses mas quando os alcancei foi junto a um café e já estavam a sentar-se, por isso nem falei com eles. Mais á frente um casal passou por mim de bicicleta, eram espanhóis. Meia hora depois fui eu que passei por eles, as estradas são excelentes porque são de terra batida, mas para as bicicletas e por terem pedras, não é ideal, estavam a remendar o pneu. Não voltaram a passar por mim, ou tiveram problemas mais graves ou ficaram num dos albergues/ AL existentes.

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Noutro ponto da viagem encontrei uma Tailandesa, percorria o caminho em sentido contrário, vinha de Ponta de Lima a 11 kms e ia para uma terra a 3,5 kms e questionou-me se era longe, ou seja, o mapa no telemóvel dela dizia que era 3,5 o que esperava de resposta? Quando soube que vinha de Barcelos e ia para Ponte de Lima exclamou, 35 kms, eu não fazia.

Também existiam caminhos que valiam a pena percorrer, sombra e natureza.

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E quando precisamos de lavar a cara, para beber nem todas são aconselhadas, temos a frescura da natureza.

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E noutros casos admiramos o que já foi novo e garantidamente majestoso.

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Durante a viagem encontrei muitas árvores de fruto, e como desejei poder comer umas ameixas fresquinhas, tal foi o meu desejo que o universo satisfez a minha vontade.

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Não é fácil encontrar tanta generosidade, deixar fruta, neste caso ameixas, para os peregrinos poderem comer sem terem necessidade de tirar das árvores, ou seja, roubar.

A partir de Barcelos também encontramos muito mais informações, além das distâncias, as ofertas no percurso.

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Para que a viagem fosse completa, mesmo a chegar ao albergue uma outra igreja aberta, sinal para entrarmos.

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Consegui chegar antes da hora prevista, sentei-me na sombra e verifiquei que já existiam outros peregrinos, um deles um jovem português que vinha de Braga e é médico. Restantes eram alemães e de outras nacionalidades, a maioria jovens. A atribuição das camas é sequêncial, ou seja mistos.

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Enquanto esperava existia no espaço junto ao rio a Festa do Cavalo, com provas a nível internacional.

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Agora, apenas saborear a cidade Ponte de Lima, cidade que visitei recentemente mas que é sempre bom ver e apreciar o rio que banha a cidade.

Até já!

2 Dia

cibera, 04.07.23

Na minha juventude era normal as anedotas começarem por "um português, um italiano, um francês,..." sempre para promover a esperteza do Portuga.

Esta história começa da mesma forma só que é real e aconteceu nos jardins do Mosteiro de Vairão.

No tal jantar/churrasco promovido pelo Albergue e porque o único restaurante da aldeia estava fechado, sentaram-se 7 personagens na mesma mesa, " um Búlgaro, um Jugoslávio, um Alemão, um Francês, um Italiano, um Belga e claro o mais importante o Português" que mal falava inglês.

Deste grupo 3 eram conhecidos, os outros desconhecidos entre eles. Será que se tivesse ido jantar ao restaurante teria está sorte?

A conversa variou, regada inicialmente com vinho alentejano e depois com jarro de tinto da região, apenas diziam que era mesmo bons. A comida, variada desde saladas verdes, salada russa, camarão com maionese, enchidos grelhados e depois carne grelhada, só elogiavam, deliraram com a refeição e para terminar salada de fruta e ameixas.

Os 3 conhecidos eram ligados á proteção das aves e por isso a conversa girou em torno deste tema, mas também de características de cada país e até de ursos se falou.

Foram 2h passadas em boa companhia e mesmo com as minhas limitações de linguagem não deixei de participar e ser questionado sobre alguns temas.

A grande questão é, onde é que na nossa vida deixamos entrar algo parecido com esta situação? Sentarmos numa mesa com estranhos, mesmo que todos falem a mesma língua. Preferimos o que é garantido, as mesmas pessoas, os mesmos temas e as mesmas situações, ou seja, seremos sempre o que já éramos e vamos continuar a ser o que somos!

E assim terminou a noite, 22h já que às 6h o dia começa. Com os preparativos da viagem só era preciso reabastecer o organismo e surpresa, excelente pequeno almoço.

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Este é digno de hotéis, só faltou os docinhos.

Depois, está na hora, o italiano saiu logo a seguir às 5h30, não queria apanhar calor, o alemão e o francês estavam a levantar-se, não tinham pressa e os outros 3 ainda iam fazer uma conferência via zoom. Quando estava já na rua o relógio da torre bateu as 7h, excelente para iniciar o dia.

No primeiro dia, posso dizer que fui como os jovens quando iniciam a vida, não querem aprender com os mais velhos nem seguirem as regras básicas e por isso muitas das vezes fazem um maior esforço para atingirem os objetivos, mas quem dá ouvidos aos outros? É normal sermos rebeldes e queremos experimentar, nós podemos fazer melhor e de forma mais fácil, basta fazer á nossa maneira.

Assim foi o que fiz, não segui as regras e caminhei mais do que devia e por isso hoje decidi cumprir as regras, fazer rigorosamente o que propunham.

Para começar, o caminho foi muito mais agradável.

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Muito pouca estrada principal, mas a que foi preciso foi complicado, preocupam-se com a sinalização, que é muito bom, mas esquecem-se de cortar as ervas nas bermas colocando em perigo os peões.

Neste caminho passei a primeira vez por uma igreja aberta, em S.Pedro de Rates.

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Uma pequena terra cheia de igrejas e outros monumentos, tal era a importância no passado, para não falar das casas.

Depois voltei ao percurso por estradas de terra batida e, quando começava a ficar preocupado se estava no percurso certo lá aparecia uma seta, parece que o universo gerava resposta aos meus pensamentos.

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E quando não era a seta era uma "X" amarelo que simboliza por aqui não. Mas também encontrei o que não devia ter encontrado, uma meia abandonada na rua, acredito para não julgar que alguém a perdeu.

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Mas as paisagens são maravilhosas, permitem que apreciemos o que temos de belo em Portugal.

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Assim o dia foi muito mais simples, cruzei-me com um casal estrangeiro que iam a um passo mais calmo, depois duas jovens que estavam paradas num café, de seguida um grupo espanhol que pela velocidade iriam percorrer no máximo 15 kms e não tinham mochilas.

Ao entrar em Barcelos fui recebido pela música dos sinos, eram 14h, 7h de viagem para 29 kms. O rio, também praia fluvial, estava convidativo para um banho mas preferi seguir e procurar o albergue.

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O albergue bem no centro da cidade, apesar dos muitos que encontrei no caminho e até na entrada da cidade, promovendo desde quartos individuais e outras ofertas de conforto. Como tinha decidido optar de preferência por albergues ditos oficiais, já tinha feito reserva no albergue da cidade, o valor era conforme a nossa vontade e deixado numa caixa na entrada. Cada um dá o que acha bem. É um albergue pequeno, com umas 20 camas em beliches, misto. A entrada no exterior simples mas na recepção bastante decorada, com partes comuns excelentes e as camas no primeiro andar. Já se encontrava uma peregrina a descansar. Depois de um duche, tratar dos pés, eles são uma parte fundamental do sucesso da viagem, mudei de roupa e fui para a rua. Mesmo conhecendo bem Barcelos, sabe bem andar um pouco sem o peso da mochila.

A seguir vou então relaxar umas 2h antes de ir jantar, o albergue tem um café/ restaurante com menu especial peregrino, aproveitar e comer onde outros peregrinos vão jantar.

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Agora sabia bem uma massagem aos ombros, será que o universo vai realizar esse meu desejo?

Até já!

1 Dia "Perdi"

cibera, 03.07.23

É verdade, neste primeiro dia perdi os óculos, o caminho (trilho) e o parceiro de viagem.

Vamos por partes!

Depois de um bom pequeno almoço na Albergaria de peregrinos do Porto, agradecendo a hospitalidade que foi dada, para iniciar a caminhada foi importante ter este tipo de acolhimento, para fazer-me á estrada.

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A primeira parte dentro do Porto, bem sinalizada e em ruas típicas e cheias de monumentos que permitem ver a beleza desta cidade.

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Quando chegamos á Maia, nesta altura ainda tinha parceiro de viagem, fui atrás de uma sinalização em inglês que dizia o local para carimbar o passaporte e também dizia "to back", voltar! Mas, nem sequer questionámos e foi só mais á frente, uma boa meia hora que decidimos olhar o mapa e verificamos que não estávamos a seguir o trilho. Como em tudo na vida, em vez de regressar a um ponto seguro de retorno fizemos o mais fácil, alternativa e assim foram mais 6 kms para o percurso, nada de especial!

Agora, perdi os óculos, por causa do telemóvel tive de tirar os óculos e nalgum sítio ficaram, mas será que afinal eram importantes? É que fiz o resto da viagem sem eles e sem poder esconder o olhar, é verdade, os óculos que podem ser uma boa ferramenta por causa do sol é essencialmente uma forma de esconder o nosso olhar. Aquilo que mais me custa, é que eram de marca, uns óculos especiais, paguei 3,50€ por eles!

Perdi-me no percurso, será que me perdi mesmo? Porque, ao perder-me no caminho fui passar junto á estação de Metro da Maia, que permitiu que o parceiro de viagem, ao desistir, pudesse apanhar este meio de transporte directo para a estação de Porto Campanhã. Se tivéssemos ido pelo caminho certo teria de ter apanhado diversos autocarros para chegar ao mesmo destino. Assim fica a grande pergunta: perdi-me ou foi o destino?

Perdi o colega de viagem! Será que perdi? A grande questão é essa mesmo, será que este caminho não era para fazer sozinho? É que, com alguém a acompanhar de alguma forma limita-nos a partilha, os contactos e acabamos por ficar na nossa zona de conforto. Pelos testemunhos que li, o "Caminho" é diferente de pessoa para pessoa, assim não o iria percorrer da mesma forma como irei fazer. Mas só consigo saber quando chegar a Santiago de Compostela, porque vou chegar!

Concluindo, será que perdi alguma coisa? Na minha vida tenho a velha máxima, "nada é por acaso". Mesmo esta viagem nesta altura da vida não é por acaso, nem sempre entendemos o porquê de acontecer, e a maioria das vezes viramos as costas aos acontecimentos, garantindo que somos donos e senhores do planeamento da nossa vida, será?

Depois dos primeiros 15 kms, acompanhado e dentro do meio urbano de tráfego intenso, para quem vive no Baixo Alentejo em que um engarrafamento de carros é feito com 3 a 5 carros, imaginem esta região com um trânsito contínuo. Claro a N14 não é fácil, mas depois de sair da Maia foi mais pacífico.

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O norte de Portugal está cheio de casas típicas, algumas com séculos e um dos símbolos da importância que as terras tinham no passado é olhar para os cemitérios e os mausoléus existentes.

Apesar do pequeno contratempo, o mais importante é sempre chegar e foi isso que aconteceu. Mosteiro do Vairão, situado numa pequena aldeia, é gratificante ver a placa e melhor quando tomamos um duche e mudamos de calçado, mas esqueçam, não pensem que agora descanso, depois disto volto a sair e conhecer a aldeia e beber um café, só depois é que parei um pó até á hora do churrasco.

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E, porque nada é por acaso, o único restaurante da terra á segunda feira está fechado e assim o Albergue faz um churrasco para os peregrinos que assim o pretendam. Ou seja, permite uma maior ligação com outros peregrinos e com o pessoal do albergue.

É nestas alturas que sinto falta de falar a língua inglesa, já no albergue do Porto tentei manter conversa com outros peregrinos mas é complicado e aqui sou o único peregrino português, além de mim está um italiano e um alemão, nas mulheres só no churrasco saberei.

Mas, mesmo não sabendo falar só existe uma solução, praticar e esforçar, derrotas, só no fim do jogo.

Até já!

 

Porto - Albergue do Peregrino

cibera, 02.07.23

Depois da viagem de autocarro chegámos finalmente a Campanhã, agora é só dar corda aos sapatos para chegarmos ao nosso destino de hoje.

A recepção não podia ser melhor, o Miguel super simpático e o único a falar português. Explicou-nos o funcionamento das instalações e mostrou o espaço, magnífico, pequeno mas muito acolhedor.

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Neste local ouve-se falar várias línguas, uns chegam de bicicleta e outros a pé. Todos partilham simpatia e cumprimentam com um "Olá".

A cozinha simples mas agradável, no frigorífico existem alimentos privados e outros que são deixados pelos peregrinos para partilhar.

Na sala de convívio, uma tv, sofás e uma estante com livros que permite a troca. No exterior espaço para lavar e estender roupa, um jardim com mesas e cadeiras e até camas de rede nas árvores. O Miguel informou que toda a fruta existente nas árvores é de apanha livre.

Tivemos sorte, este Albergue está cheio, já tiveram de recusar pessoas, mesmo agora bateram á porta e foram reencaminhados para o da Boa Hora.

Agora vamos procurar onde jantar, não vamos visitar o Porto porque é uma cidade que bem conhecemos, mas vale a pena ficar mais um dia para ver os monumentos e conhecer o encanto desta cidade.

Amanhã o dia começa 6h, pequeno almoço aqui no albergue a partir das 6h30 e depois, a estrada espera-nos!

Até já!

Os Preparativos

cibera, 02.07.23

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A menos de 24h do início da caminhada já dei início da verdadeira viagem, Beja - Porto de autocarro.

A minha memória durante esta viagem trabalha a mil, recorda tudo o que foi colocado na mochila. Depois de ler dezenas de testemunhos, temos de considerar que todos nós somos diferentes e, ler apenas alguns testemunhos podemos estar a ler de pessoas completamente diferente de nós.

Algo é comum a todos, até porque existem estudos que o referem, a mochila não pode exceder os 10% do nosso peso, ou seja a minha no máximo 8 Kgs. Agora imaginem, para 11 dias como colocar tudo o que preciso? 

Entendo a questão de muitas pessoas:

Existe serviço de envio de malas entre albergues?

É verdade que existem pessoas com mobilidade reduzida, de idade avançada e até com crianças de colo e então entendo a necessidade deste serviço, um custo acrescido mas que permite que todos sem exceção possam fazer o caminho. Acreditem, não foi destas pessoas que li os testemunhos, foi de outras que não conseguem libertar-se dos bens materiais e da imagem que querem manter.

Não sei se foi por ter estado na tropa, 18 meses, se foi pela minha educação ou pela minha rebeldia na juventude, a verdade é que sou campista desde os 17 anos e, não por passar férias mais baratas mas sim, pela liberdade que temos neste tipo de vida. Assim para mim, não é difícil "cortar" no que posso devo levar.

Também é comum na maioria dos testemunhos a importância do Kit de emergência e de mais alguns produtos para minorar todos os problemas que possam surgir. Claro, os nossos pés suportam o nosso peso, são eles que nos permitem mover, uma pequena bolha poderá ter consequências graves na nossa caminhada 

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Por isso, recordo todos os produtos essenciais, cremes, pensos, ligaduras, etc. Depois, a importância de um chapéu e óculos de sol, é julho e em princípio iremos apanhar sol e calor, nada garantido, a natureza nessa área é fantástica, quando pensamos que estamos no verão, ela pode surprender-nos e dar dias de chuva, nevoeiro e até frio. O objetivo é todos os dias iniciar a caminhada cedo.

Água, essencial para a sobrevivência dos seres vivos, é verdade que não vamos para o deserto mas, na caminhada que fiz no Alentejo, depois de ter terminado a minha água andei quase 3h até conseguir arranjar, nem casas, nem fontes e muito menos lojas, como se diz "depois de casa roubada, trancas na porta".

O saco cama, apesar de a maioria dos albergues cederem roupa da cama descartável não é garantido em todos e, porque as camas são partilhadas por muitas pessoas o melhor é garantir e proteger de possíveis danos na nossa saúde.

Para terminar e é do consenso geral, umas sandálias para depois da caminhada os pés descansarem e uns chinelos para dentro do quarto, nunca andar descalço e usar o mesmo calçado de rua não é aconselhável.

Depois de tudo isto, que peso sobra para a roupa?

Li a informação nos albergues e os testemunhos, existe possibilidade de lavar roupa nos albergues, assim não precisamos de complicar. Optei por camisolas ideais para caminhada, transpiraveis e de secagem rápida tal como a roupa interior, maior investimento mas que justifica para uma caminhada mais tranquila.

O calçado que vou usar na caminhada também é consequência da leitura dos testemunhos e já provado na última caminhada, botas (material de sapatilha) também respiráveis e com garantia que aguentam 2h a chover, na anterior caminhada aguentaram uns 20 minutos e sem problemas .

Em termos de comida, um dos maiores problemas, ou não. É ilusão do ser humano a necessidade de quantidades, quando vamos de viagem e ficamos em hotéis o que se vê é um exagero no pequeno almoço, a maioria fica insatisfeita se não existir o tradicional "pequeno almoço europeu".

O mais importante não é a quantidade e por isso optei por umas barras para apoio, adoro fruta mas isso significa peso e por isso está fora de questão, as barras são leves e energéticas.

Também pretendo nesta caminhada aproveitar e conhecer, de outra forma que não quando andamos em turismo, a região. Os testemunhos é que os comerciantes neste percurso até têm preços especiais para os peregrinos e, porque temos de carimbar o passaporte de peregrino duas vezes (no mínimo) por dia, uma será no albergue e a outra no comércio.

Uma boa planificação é essencial para um bom resultado mas, isso não quer dizer que temos tudo sobre controle, a magia da vida são as surpresas, os imprevistos e são eles que vão marcar sem dúvida a nossa viagem.

A questão é: como vamos reagir a todos estes imprevistos?

Outro testemunho que é do consenso geral, a interajuda dos peregrinos. Noutro momento da minha vida e pertencendo a uma organização internacional, que ainda hoje pertenço mas menos participativo, quando fazíamos viagens internacionais e só porque usávamos uma identificação, símbolo, comum a nível internacional, obtinha-se colaboração/amizade sem interesses ocultos. Um dos testemunhos que guardo, foi em Barcelona em 2002. Sozinho procurava a forma de chegar ao evento da organização á saída da estação de comboios. A minha cara devia demonstrar essa preocupação porque uma jovem aproximou-se de mim e perguntou se queria partilhar o táxi, aceitei a oferta e no táxi já estava outro casal, ela era italiana e o casal um italiano e outro alemão. Apenas porque usávamos algo que nos identificava!

Nesta caminhada algo nos identifica e nos UNE, somos Peregrinos.

Algo que falta na nossa sociedade, a partilha sem interesses ocultos.

Até já!

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Beja - Santiago Compostela

cibera, 27.06.23

Depois da pequena viagem pelas paisagens alentejanas, está na hora da verdadeira viagem:

Porto - Santiago Compostela.

Para isso, uma viagem de autocarro entre Beja e Porto, noite no Albergue dos Peregrinos e no dia seguinte, com a mochila às costas, será a hora de iniciar a verdadeira viagem.

Para muitos, existe um verdadeiro sentido de Fé, para outros o prazer da caminhada num percurso preparado mas, será que é possível fazer esta caminhada sem ter alguma Fé?

Todos os testemunhos que li sobre os diversos caminhos de Santiago, sente-se que os peregrinos levam consigo uma "busca pelo seu interior", mesmo que tenham partido sem esse sentimento. Será o caminho uma "fonte" da qual precisamos de "beber" para nos encontrarmos?

Vou partir para essa descoberta, crente mas não ao ponto dessa Fé, mas em busca do meu "EU".

Domingo dia 2, ao Porto chegaremos para segunda-feira iniciar a nossa etapa!

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