6 Dia
Antes de sair para jantar, Breno disse-me: amanhã chove. Perguntei-lhe se tinha Fé, ao que respondeu que sim. Perguntei-lhe se quando saiu do Brasil para ir visitar a namorada a França se tinha programado vir fazer o estágio em Braga e se tinha planeado fazer a caminhada. Por vezes, o universo promove meios para fins que não pensamos ou sonhamos, só temos que ter Fé.
Quanto á chuva, parece que choveu e muito durante a noite, quando saí já não chovia e só apanhei uns pingos muito fracos, por duas vezes a meio da viagem, um enquanto passava numa zona de árvores e por isso as mesmas serviam de resguardo e da segunda vez o sol até brilhava mas, sem arco íris, imaginei que estava numa esplanada naqueles dias de verão quentes e era uma ventoinha que libertava os vapores de água.
Este Albergue, privado também oferecia a possibilidade de pequeno almoço. O curioso é que este albergue situa-se numa loja tipo comercial apenas com luz natural na montra, e na entrada fica a recepção e a cozinha. Depois passando uma porta foram feitos muitos cubículos para 4 camas em beliches, ficando aberto acima dos dois metros. Quase sem ventilação e nenhuma luz artificial, só lucro.


Hoje já passava das 6h45 quando saí, percorri a cidade até conseguir sair, foram mais de 20 minutos, quem diria que demora-se tanto a sair de uma cidade a pé e sem filas de trânsito!
Foi uma manhã animada de peregrinos, alguns saíram antes de mim e existem mais albergues. Na primeira hora apanhei muitos com passo lento a partir daí foram 45 minutos eu e mais a natureza, só cruzei com dois em sentido contrário, o que dá vontade de rir, será que existe problemas no caminho? É verdade, vão para Fátima!
Muitas subidas e com grande declive e claro, como diz a velha máxima, atrás de uma grande mulher existe sempre um homem, aqui existe uma descida. Parte em estrada de alcatrão e parte em terra batida. Depois, apareceu o mar, um braço que entra terra dentro, pensei que aqui sim valia a pena ter uma de férias!


Tal como no norte de Portugal, se existe verdura existe água.

E caminhos de pedra e cascalho, terríveis para caminhar, mas sabia bem.

Nesta zona, com o caminho bem arranjado e um prazer andar apesar das descidas acentuadas passaram por mim uns ciclistas, não peregrinos, apenas a fazerem o percurso a alta velocidade e colocando em causa a segurança, mas passaram sem problemas. Uns minutos depois outro grupo, um deles vinha a berrar para saírem do caminho, apesar de só ter 1,5m de largura o grupo anterior tinha passado sem problemas. Este louco continuou a gritar como um louco e logo se deitou uns 20 m atrás de mim.
Não desejo mal e espero não ter-se magoado, se não viesse em grupo teria de o socorrer mas assim continuei em paz a caminhada. O respeito e o civismo parece que é um problema geral, este talvez tenha aprendido a lição, podia ter provocado um acidente, mais uma vez, nada é por acaso.
E por não ser nada por acaso, eu tenho de carimbar o passaporte duas vezes ao dia, uma é no albergue e a outra onde eu quiser. No caminho encontrei 5 bancas com venda de produtos, principalmente água e que colocavam o carimbo, mas recusei ir a uma delas. Onde bebi café de manhã não tinha, por isso estava a desistir de ter os dois carimbos hoje, no entanto enquanto pensava nisto vi uma capela aberta e fui tirar a foto como faço em todos e lá estava o carimbo, o universo voltou a responder.

A 6 kms de Pontevedra um caso curioso, os peregrinos que encontrei não cumprimentavam nem mostravam um sorriso, um grupo francês até virou-me as costas e outro grupo de 3 nem respondeu quando passei por eles e disse o tal "bom caminho" e o mais engraçado é que os habitantes locais também não, 6 kms de gelo!
Cheguei a Pontevedra antes das 11h, muito cedo e muita confusão, atravessei a cidade, quase uma hora de caminho e segui.

Depois de Pontevedra voltou o espírito de peregrino, tanto os habitantes como os peregrinos já mostravam simpatia.
Na entrada de uma terra mais um mosteiro.


Mais á frente outra capela, completamente diferente das nossas, pouco trabalhado e em pedra.

Já tinha encontrado de tudo, mas esta fez-me sorrir, de facto é isso mesmo, quem quer fazer o caminho terá de ter sempre um sorriso na cara e muito amor, torna-se mais fácil.

Já tinha atingido o meu objetivo e pensava parar num dos albergues espalhados pela estrada e a oferecer sempre mais serviços, mas senti um desejo de continuar, parecia que o meu corpo estava em sistema automático e por isso, apesar de sentir algum cansaço continuei.
Noutro local encontrei um grupo de portugueses e claro como bom português estavam sentados numa das muitas mesas espalhadas pelo caminho. Tinham apoio de um carro, mesmo sem saberem que era Português ofereceram comida e café, apesar da vontade de aceitar fosse muito, sabia que depois teria problemas em continuar. Agradeçi a oferta, recusando e seguindo o caminho. Ainda não sabia até onde ia, onde deles perguntou-me de onde vinha e depois afirmou que iria até Caldas Ao qual respondi que sim. Não fui eu a decidir, foi o universo a dar-me a mensagem e ainda bem.
Pelo caminho mais alguns factos interessantes.

A maioria do caminho é o verde, nalguns casos do milho ou vinha noutros as árvores.

Depois de tanto caminho, passou os 40 kms, cheguei ao local de descanso. Quando estava a fazer o registo foi-me logo recomendo, tinha de ir colocar os pés na água quente do tanque, 38 graus e que tem efeitos terapêuticos, principalmente para quem caminha. Nesta é a fonte que não podemos colocar os pés.

Uns metros ao pé lado o tanque tanto recomendado. Enquanto lá estava apareceu um grupo de 3 portugueses, ele já tinha feito anteriormente o caminho mas quando chegou a Caldas não teve força para molhar os pés, agora em passeio, de carro, queria fazer o que não tinha feito. A água estava mesmo quente, sabe bem aos pés.


A igreja onde todos os dias às 20h os peregrinos podem assistir á missa.

Depois de um dia a comer barras energéticas e fruta, fui comer um dos doces regionais antes de ir ao restaurante recomendado e que ainda era cedo.

Hoje foi o dia de experimentar várias fases, afinal na vida é assim mesmo, a diversidade é que faz a alegria de viver.
E hoje tive a certeza, quero fazer em breve o caminho francês e no próximo ano quero fazer em Itália o caminho de Assis.
Agora, não pensem que fiquei convertido, sempre fui Crente e sempre tive Fé, mas continuo a não saber porque vi fazer esta caminhada. Tenho dúvidas que quando chegar a Santiago de Compostela tenha alguma resposta.
Até já!































































































